A imagem acima mostra como o som da flauta doce é produzido. Este vídeo foi produzido por Avraham Hirschberg, na Universidade de Utrecht. Uma explicação detalhada pode ser lida em seu artigo, em holandês, no endereço http://www.flute-a-bec.com/miko-fluit.html.
A flauta doce é um instrumento da família dos sopros, da família das madeiras, e como tal funciona pela vibração da coluna de ar dentro do tubo do instrumento. Essa vibração é produzida da mesma forma que em um apito: existe um canal que dirige o fluxo de ar ao encontro de uma parede que divide o fluxo em dois, chamaremos esta parede de lábio, e o lábio se encontra na janela da flauta. Como vemos no vídeo acima, quando o ar se divide ele se movimenta para dentro e para fora do instrumento, produzindo uma vibração ou oscilação.
Quando o fluxo entra dentro da flauta, aumenta a pressão do ar dentro do instrumento, e imediatamente o ar que está dentro do tubo tenta escapar tanto pelos furos como pela janela. Assim que consegue escapar, a pressão interna diminui, fazendo com que mais ar da janela entre para dentro novamente, gerando assim uma oscilação, que produz o som da flauta. Repare que a flauta permanece estática, isto é, sem vibração, enquanto apenas o ar vibra.
Quanto maior o tubo mais lento é este processo, e por isso o som produzido é mais grave, isto é, tem uma frequência menor. Se o tubo é curto a frequência é maior, e por isso o som é mais agudo.
Desta forma, as moléculas de ar vibram dentro da flauta, da mesma forma que o famoso Pêndulo de Newton, fazendo que o ar entre e saia dos furos ou da janela de forma sincronizada.
Podemos fazer aqui uma analogia: o ar dentro da flauta vibra como uma corda do violino, o ar que assopramos funciona como o arco do violino, e o ar que já estava dentro da flauta vibra como sua corda. O tamanho da corda é igual ao tamanho do tubo, desde a janela até o primeiro furo completamente aberto.
Podemos imaginar a coluna de ar variando seu tamanho conforme mudamos o dedilhado, mas quando temos dedilhados de forquilhas ou dedos cruzados, fica difícil imaginar como fica a coluna de ar, por isso fiz o gráfico abaixo (clique para ver maior).
A coluna de ar está desenhada aqui em duas cores. O vermelho representa onde o ar se movimenta mais e por isso a pressão é menor; o amarelo representa o local onde o ar se movimenta menos e há maior pressão. Normalmente as áreas em vermelho coincidem com os furos abertos, pois o ar pode se mover para fora e para dentro do instrumento.
Repare que nas notas sem dedilhado de forquilha (figuras 1, 2 e 4), o ar vibra até o primeiro orifício aberto, deixando o comprimento da coluna de ar muito nítido. Nas notas de forquilha (figura 3), a coluna de ar é “esticada” um pouco mais, baixando a afinação da nota imediatamente superior, que neste caso seria um sol (no dedilhado da soprano) com sua afinação abaixada até o fá sustenido.
Algo curioso acontece quando chegamos na segunda oitava (figura 5), pois aparecem duas “ondas”, isto é, a coluna de ar se divide em dois, e por isso, temos o som correspondente à oitava acima da nota fundamental. O mesmo fenômeno acontece quando dividimos a corda do violino em dois. Repare que o comprimento é exatamente o mesmo da nota oitava abaixo (figura 2), mas como a coluna está dividida em 2, temos uma freqüência duas vezes maior ou mais aguda.
Em seguida, temos outra coisa curiosa quando chegamos no 3.o harmônico – a nota si agudo na soprano, ou mi agudo na contralto, representada na figura 6. Reparem que o dedilhado é muito parecido com o mi agudo (soprano) ou lá agudo (contralto) exceto pelo dedo 3. Com este dedo aberto, formam-se 3 ondas, ou o terceiro harmônico.
Quando tocamos as notas ainda mais agudas, chegamos no 4.o harmônico, isto é, 2 oitavas acima da nota fundamental, representado na figura 7 com o dedilhado da nota ré na soprano ou sol na contralto, ambas na terceira oitava.
Quando voltamos a observar o vídeo no início deste artigo, podemos imaginar o que acontece quando alteramos a intensidade do ar: se sopramos mais, a velocidade é maior e a vibração aumenta a frequência, e se sopramos menos a vibração diminui junto com a frequência. Assim, percebemos que a afinação está diretamente relacionada com a nossa respiração e o controle do ar, e quanto é importante para os flautistas aprenderem a soprar e controlar o som. O ar é para o flautista o mesmo que o arco é para o violinista, e da mesma forma, o controle do ar – respiração, articulação, sustentação – é a parte mais difícil para o flautista, assim como o controle do arco é a parte mais difícil para o violinista. Afinal, em ambos os casos, o som é produzido através destes meios.
Em suma, quando queremos mudar a dinâmica da música, temos que recorrer a dedilhados alternativos para compensar esta mudança de afinação – afinal ninguém deseja tocar desafinado – e a compreensão de como a flauta funciona nos ajuda a descobrir novos dedilhados para as mesmas notas, de forma que tenhamos mais possibilidades interpretativas que vão muito além de tocar as notas certas no tempo certo.
Ainda sobre dedilhados, sugiro a visita do site http://www.recorder-fingerings.com/br/index.php, onde é possível consultar uma infinidade de diferentes dedilhados, para diferentes fabricantes, épocas ou tipos de flautas doces.
4 Comments to "Como a flauta funciona"
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Boa noite, queria saber como consigo uma flauta da Mollenhauer, Elody, saber o valor e onde comprar. muito obrigado..
Olá Fernando
Eu sou representante da Mollenhauer no Brasil, e você pode ver mais informações sobre encomendas de flautas no link:
flautadocebr.quintaessentia.com.br/instrumentos-a-venda/
Posso encomendar para você, e a flauta chegará no Brasil em meados de Setembro.