Sempre que vejo boas performances usando a flauta doce, me questiono sobre a minha prática e sobre o que posso fazer ainda melhor. Muitos irão dizer que as coisas são diferentes nos países orientais, mas eu respondo com outras perguntas: O que é diferente? Será que as crianças são diferentes? Será que os professores são diferentes? Ou será que a postura dos professores é diferente?
O trabalho de flauta doce em escolas regulares pode ser feito com qualidade, basta que o professor tenha objetivos claros, e saiba usar as ferramentas didáticas corretamente.
Esta é a orquestra de flauta doce da escola primária de Taichung, em Taiwan. Estes não são alunos de escolas de música, mas de uma escola regular com aulas de música.
O que podemos fazer para mudar a situação no Brasil, e alcançar resultados como os apresentados no vídeo?
As dificuldades nas escolas
Todos nós, amantes ou professores de música, sabemos das dificuldades enfrentadas nas escolas em todo o território nacional. São mais de 30 alunos por sala, em algumas escolas chegam a 40 ou 45 alunos, muitas vezes o crime permeia todo o ambiente escolar e também o ambiente familiar dos alunos. A falta de recursos para compra dos ítens mais básicos como um caderno, livros e a própria flauta usada nas aulas, e também a falta dos recursos éticos, morais e sociais, como o apoio dos diretores das escolas, e da classe política para que possamos fazer o nosso trabalho bem feito.
Muitos irão falar das dificuldades para ensinar flauta doce numa cidade do sertão nordestino, ou mesmo nas periferias das grandes cidades Brasil afora. Conversando com alguns professores a respeito disso, já ouvi muitas histórias de alunos que tiveram os pais assassinados pelo tráfico de drogas, outros alunos que trabalham para o tráfico e que não desejam e nem têm a possibilidade de sair disso, pois seriam assassinados também. Pois bem, teria uma infinidade de histórias para contar, que iria comover o mais duro dos homens mas não traria solução alguma ao problema apresentado: a (falta de) qualidade do ensino de música, especialmente de flauta doce, nas nossas escolas.
A observação
Muito podemos aprender, apenas observando o que acontece ao nosso redor, e pesquisando o que acontece em outros lugares procurando conexões entre realidades diferentes.
Pensemos no que aconteceu no Japão. O que era o Japão em 1945 logo após vários bombardeios, duas bombas atômicas e o flagelo da guerra? O país estava completamente destruído. E o que é o Japão hoje, 70 anos após a guerra? Podemos fazer a mesma pergunta sobre a Alemanha, que também estava destruída em 1945. Quais foram os valores da sociedade que foram decisivos nesta mudança? Quem de fato promoveu esta mudança? Em ambos os países, foi a educação que promoveu as maiores mudanças na sociedade.
Voltemos nossos olhos agora para o Brasil. A nossa realidade é dura, a pobreza e a desigualdade é parte de nosso dia a dia, o crime e as drogas estão por todo lado. Quando olho para o passado, não posso afirmar que esta situação é nova, pois desde criança vejo pessoas pobres nas ruas em todas as regiões do Brasil, e o crime sempre existiu.
Se compararmos as duas situações, entre uma situação de pós-guerra, e uma situação de desigualdade extrema com altos índices de criminalidade, eu sou incapaz de dizer qual situação é pior, mas posso afirmar que ambas são terríveis. E também posso afirmar que tanto o Japão quanto a Alemanha conseguiram resolver seus problemas, e que podemos aprender com isso, mudando nossa atitude no nosso dia a dia, perante nossos colegas de trabalho, pais, alunos e na comunidade em que nos inserimos.
Observemos, e busquemos no vídeo o que os alunos estão fazendo:
– Todos os alunos estão tocando com boa/excelente postura corporal;
– Todos estão articulando todas as notas corretamente;
– Todos aprenderam a controlar o ar
– Som bonito e afinado é prioridade, não adianta apenas fazer os dedilhados e assoprar de qualquer maneira;
– Há uma hierarquia entre professor/aluno (os alunos olham para o maestro ao tocar);
– Todos estão usando flautas barrocas;
E quando observamos as aulas e apresentações de flauta doce em escolas no Brasil, eu geralmente percebo em maior ou menor grau:
– Má postura corporal e muitas vezes mãos trocadas (mão direita em cima e mão esquerda embaixo);
– Alunos não sabem articular as notas;
– O dedilhado é mais importante do que o som;
– Como o som não é importante, os alunos assopram de qualquer maneira;
– São usadas flautas germânicas, e muitas vezes, de brinquedo;
Claro que podemos encontrar inúmeras diferenças além dessas. Foquei aqui nos princípios básicos para começarmos a desenvolver um bom trabalho no Brasil, procurando minimizar a dependência entre o trabalho do professor e a atuação do Estado e do governo.
Os valores, o respeito com o professor e a flauta doce
Problemas existem, e não se resolvem de uma hora para outra. Mas quais seriam as soluções? E quais dessas soluções estão ao alcance de cada um de nós, professores?
Com a observação, temos uma idéia do que deve ser trabalhado desde a primeira aula. Ensinar articulação, controle do ar, boa postura e buscar um som bonito são as coisas mais básicas possíveis para quem deseja usar a flauta doce como instrumento musicalizador. A respeito da hierarquia, eu costumo dizer que respeito eu dou, e exijo; é inaceitável que um aluno desrespeite o professor, e isso deve partir da postura de cada professor.
Há que se comentar que devemos sempre usar a flauta barroca para obter um som bonito e afinado. Isso é impossível em uma flauta germânica (Ler artigo “A flauta germânica”). Sempre recomendo aos alunos a flauta barroca da série 300 da yamaha, dentre as flautas mais baratas esta é a que tem a qualidade mínima para conseguir um bom resultado sonoro, qualquer coisa mais barata será apenas um brinquedo com formato de flauta doce.
Vejo tantos professores que se orgulham de mostrar os próprios alunos tocando com as mãos trocadas, sem fazer articulação, sem postura, em suma, sem o menor respeito pelo próprio trabalho, e nem percebem que tudo isso se volta contra eles. Fazem mais mal que bem, pois os alunos percebem que as aulas são dadas de qualquer maneira, e com o tempo, todos estes alunos passam a ver a música e a flauta doce como algo de pouca importância, que ser músico não é uma profissão digna, e nem mesmo a percepção musical e musicalização são feitas a contento. E como faltam boas referências, até mesmo os trabalhos mais incipientes algumas vezes são tratados como exemplares. Uma pena.
Como não temos como mudar as prioridades do governo, temos que aprender a melhorar nossas aulas, e ensinar à classe política que o conhecimento e a educação podem mudar o país, apesar deles.
Apenas a este respeito, poderemos ensinar e exigir dos alunos uma boa postura, a correta posição do instrumento, o controle da respiração, a articulação, a afinação, e nunca use a flauta germânica!. Isso é o mínimo!
Aceitar que seus alunos toquem com má postura, posição errada das mãos e outras coisas que vimos tão corriqueiramente, só mostra que o problema não está nas instalações da escola, no salário ou na quantidade de aulas por semana, mas apenas naquilo que o professor elege como prioridade. Respeite os seus alunos, entregando a melhor qualidade de ensino possível a eles, os alunos são o legado que o professor deixa ao mundo! Se deixar que eles aprendam errado, isso causará um mal por toda a vida, e perderá a chance de ensinar RESPEITO, MUSICALIDADE e SENSIBILIDADE através dos detalhes.
Justificar o mal desempenho dos alunos com os problemas encontrados não vai fazer ninguém melhorar. Professor deve oferecer soluções, por mais difícil que isso seja.
Comecemos por buscar formação. Isso só cabe a nós, professores. Nenhum governo dará isso de graça. O segundo passo é ter respeito pela própria profissão e pelo instrumento, flauta doce não é brinquedo didático, é um instrumento musical. Para fazer de qualquer jeito, o professor não é necessário. Fazendo isso, o pior prejudicado é o próprio professor.
A música como uma linguagem
Ao enfrentar uma dificuldade no ensino de música, lembre que a música é uma linguagem, e como tal, deve comunicar algo.
Quando aprendemos a falar a nossa língua mãe, nossos pais repetiam inúmeras vezes cada palavra, sempre respeitando nosso tempo de aprendizado, e sempre acreditando que em algum momento iríamos falar. Nenhum pai duvida da capacidade de seu próprio filho para falar. Além disso, primeiro aprendemos a falar e, somente após estarmos completamente fluentes na fala, começamos a aprender a ler e a escrever. Nenhum pai ao ensinar o filho a falar ensina palavras erradas para depois corrigir o filho.
Comparando ao ensino de música, geralmente fazemos tudo errado. Ensinamos primeiro a ler e escrever música, para apenas depois aprender a tocar. E ao tocar, damos prioridade pela contagem de tempos e por dedilhados corretos do que ao som produzido. Se compararmos com a fala, seria o mesmo que ensinar bebês a escrever antes de falar, e ao falar, pedir a eles a contar o número de sílabas e pronunciar cada palavra como um robô, sem nenhum sentimento ou intonação que facilite a comunicação. O pior é quando trocamos os nomes de notas por números, símbolos ou cores, que é o mesmo que ensinar errado para corrigir depois. Não há razão para fazer o trabalho duas vezes.
Desta forma, fica claro a razão por resultados tão pobres em nossas escolas.
Assim como uma língua, a música também possui suas “regras gramaticais”, isto é, a técnica envolvida na performance, que nunca pode ser desprezada. Mesmo antes de aprendermos gramática na escola, já sabemos falar corretamente, conjugar verbos, colocar as preposições nos lugares corretos, formar frases complexas, brincar com o material. Só brinca com o material quem o conhece bem. Nunca desprezemos a técnica no ensino de música, mas devemos fazer conforme a necessidade, tendo o resultado sonoro como objetivo principal.
Um grande educador musical, que foi inclusive amigo de Albert Einstein chegou a esta conclusão de que a música é uma linguagem, e que pode ser ensinada desta maneira com excelentes resultados. O nome dele é Shinichi Suzuki, e com isso, ele criou o Método da Educação do Talento, ou Método da Língua Materna, ou mais conhecido aqui no ocidente como Método Suzuki.
Conclusão
Depois de assistir o vídeo acima com outros professores, ao invés de justificativas a respeito do trabalho no Brasil, eu adoraria ouvir dos professores: Se ele pode, eu também posso! Vou pesquisar e ver o que este professor faz para ter tantos alunos que toquem bem. Afinal, ele não tem apenas um ou dois bons alunos, são muitos! E se entrarem em seu perfil no youtube, virão muitos vídeos como este, com diversos grupos diferentes!
Toda criança é capaz, basta acreditar nisso! Nunca subestime as capacidades de um ser pequenino, pois ele também é um ser humano que merece todo o respeito, e devemos sempre ensiná-lo a respeitar os seus colegas e também os mais velhos.
Se alguém já superou um problema que passamos, temos que buscar como o outro superou este problema, ao invés de reclamar e esperar a solução cair do céu. A responsabilidade é nossa.
Se não sabemos tocar flauta doce, não precisamos usá-la. Ninguém é obrigado a ensinar o que não sabe, mas precisamos fazer o melhor naquilo que nos propomos a fazer. Assim, se usamos a flauta doce temos a obrigação de fazer um bom trabalho com este instrumento. Se não sabe tocar, ou busque formação na área ou use outro material que você domina. A responsabilidade do professor é muito alta, pois o ensino, em qualquer área, muda os valores de uma nação inteira.
27 Comments to "Flauta doce nas escolas"
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Excelente artigo! Leitura obrigatória para professores de flauta! Muitos professores brasileiros ficam usando a desculpa de “Aqui não tem investimento.”, ou “Trabalhar em escola é complicado, porque falta estrutura.”, mas não fazem nada para tentar mudar o quadro que temos. Realmente falta pensar “Se eles podem, eu também posso!”.
Agradecemos o comentário!
Muito bom este artigo. Sou voluntária numa ONG e, apesar de ter pedido Flautas Barrocas Soprano serie 300, a coordenadora comprou germânicas. Sei que não são boas, mas vou ter que me virar com estas mesmo! O que fazer???
Angela Levy
Olá Angela!
Não se sinta sozinha nesta luta, pois muitos professores passam pelo mesmo problema.
Devemos lutar contra a falta de conhecimento, com a melhor arma para isso: o conhecimento. Devemos ensinar e mostrar as diferenças, com bons exemplos, e mostrar às pessoas que não se pode fazer um bom trabalho com ferramentas ruins. Uma das ferramentas que eu costumo usar para isso são vídeos na Internet, pois nenhum grupo de alto nível usa flautas de plástico, quem dirá flautas germânicas. Quando vemos bons trabalhos de educação musical com flautas doces (como o vídeo do artigo), não se usam flautas germânicas. Até as crianças que eu tenho contato percebem a grande diferença que há no som de uma flauta germânica e barroca, entre uma flauta de plástico e uma de madeira, e creio que podemos mostrar esta diferença aos responsáveis pela compra dos instrumentos, e fazer uma justificativa bem objetiva que eles entendam: A QUALIDADE DA BARROCA É MELHOR E AMBAS CUSTAM EXATAMENTE O MESMO PREÇO.
É necessário excluir a flauta germânica do mercado ! Muitos pais compram equivocadamente! Complicado !
Obrigado pelo comentário! Neste caso, o professor é a pessoa que mais pode ajudar a mudar isso. Quando nossos alunos compram a flauta germânica, pedimos para que os pais levem novamente na loja com a nota fiscal e peçam para trocar o instrumento por uma flauta barroca. O preço é exatamente o mesmo, não há razões para permanecer no erro com uma flauta germânica.
Ai, gente, já perceberam como as crianças asiáticas dão show? Precisamos ir pra lá estudar como é a educação por lá! Ficamos aqui,as vezes dando muro m ponta de faca, afffff! Acho que nasci no país errado!
Uma pergunta para pensarmos: o que você pode fazer para melhorar o ambiente em que você vive? Pense nisso. Nada vai mudar se nós mesmos não mudarmos as nossas atitudes, ainda que pequenas.
Trabalhei 15 anos numa ONG onde ajudei a criar em Cuiabá, MT. Nesses 15 anos com a nossa Orquestra de Flautas foi de muito trabalho, e reconhecimento. Gravamos 2 Cds, viajamos para França, tocamos para presidente e governadores, políticos, gente entendida e leigos. Mas diante de tudo isso, eu percebi, e confirmamos que o que mais acontece na vida de uma criança ou jovem quando aprende a tocar esse lindo instrumento, é a transformação social. É nela , na flauta doce, que me inspiro para dar oportunidade a crianças que nunca teriam a menor possibilidade de sonhar, e tocar um instrumento. Minha paixão. Parabéns pelo artigo.
Olá Helen! Obrigado pelo comentário!
Muito boa reflexão sobre o assunto. Parabéns
Obrigado pelo comentário!
Muito bom o artigo, parabéns!
Adoro o “centro tonal” do artigo: O que eu posso fazer? Achamos muitos problemas, muitos não podemos resolver, mas tanto outros só dependem de nós.
Parabéns!
Olá Acácio, é exatamente isso que propomos. Muitas das reclamações não são feitas diretamente às pessoas que estão no comando, pois os professores têm medo de perder o emprego, além disso muitos destes não fazem o que está ao seu alcance para fazer um bom trabalho.
O PROFESSOR É UM AGENTE DE MUDANÇA.
“Não espere que a solução venha do governo. O governo é o problema” (frase de Ronald Reagan)
Poxa, eu sempre usei (e pedi) a germânica… não sabia q era tão horrível assim…
Ótimo artigo. Vou compartilhar.
Qt a “fazer o melhor apesar de…”, é meu lema. Errava porf alta de conhecimento. Tentarei consertar o erro…
Obrigado pelo comentário!
Este é o nosso maior motivador: esclarecer e buscar fazer sempre o melhor que está ao nosso alcance. Sucesso para você!
Olá Gustavo, como os demais também adorei o seu comentário e já o postei no FACEBOOK. De fato, você já tinha me alertado por e-mail sobre as flautas germânicas, você disse: ” Edney, nem os alemães usas mas a flauta com digitação germânica.” Pois bem, observei o fazer diferente. Buscar informações sobre o método Suzuki; preocupar-se com a sonoridade, respeito indo e vindo; entre outros. Parabéns! Estou para daqui a duas semanas começar com uma nova escola, mas ao falar com os pais no Plantão pedagógico, vou dizer que a flauta escolhida é somente a Soprano Barroca. Vamos mudar nossas atitudes e mudaremos o Brasil…pra melhor claro.! Mais uma vez parabéns.
Olá, gostei muito do artigo e vi que você mencionou o termo “articulação”. Sou pai de crianças que aprendem flauta doce e eu comecei a aprender junto com eles. Sugiro e solicito um artigo sobre esse tema, dado que pouco se acha de literatura em livros ou na internet. Poderia indicar material sobre o assunto?
Olá Romano
Articulação é realmente um tema importantíssimo quando o assunto é flauta doce. Tocar flauta sem articulação é quase o mesmo que tocar violino sem arco. Uma pena que professores que não são capacitados deixam de ensinar este assunto para as crianças, pois o correto é ensinar articulação desde a primeira aula, e de tão importante, este assunto continua sendo abordado por toda a vida do flautista.
É realmente um assunto extenso, e apenas um artigo sobre articulação seria insuficiente. Por isso, sugiro que dê uma olhada na sessão Pesquisas, artigos e textos aqui do blog, pois você encontrará o trabalho Fala Flauta que trata especificamente sobre articulação na flauta doce.
Além destes trabalhos, você encontra outros livros em língua estrangeira. Recomendo os 3 volumes “The Modern Recorder Player” do autor Walter van Hauwe, que pode ser encontrado na Amazon ou em outras lojas virtuais.
Grande abraço e bons estudos!
Olá, gostaria de saber o autor deste texto
Obrigada
Olá Jéssica,
Obrigado pelo comentário. Eu sou o autor do artigo, Gustavo de Francisco.
Abraço!
Queridos, vocês estão de parabéns pelo belíssimo texto.
Sou professor de educação musical em escolas regulares e posso também dizer que sou um militante incansável
à favor da nossa querida flauta doce e do devido respeito para com esse riquíssimo instrumento.
à tempo eu vinha à procura de um blog sério e de confiança que tratasse a música na escola e a flauta doce com a devida dignidade e acabo de encontrar vocês .
Mais uma vez parabéns e vamos lutar juntos de maneira incessante para termos em nosso país uma educação musical séria e de qualidade.
Um forte abraço!!
Prof. Tiago de Oliveira
Obrigado pelo comentário!
Por gentileza, esclareça-me o seguinte: há diferença significativa na afinação entre os modelos YRS 24B (barroca) e YRS 23 (germânica) da YAMAHA ou a diferença de afinação só é perceptível em modelos de qualidade superior a esses? Ambas são feitas em resina e custam aproximadamente R$ 40,00.
Sim, há diferença significativa entre a barroca e a germânica. Leia os artigos abaixo:
A flauta germânica
Escolhendo uma flauta doce – Passo a passo
Escolhendo uma flauta doce – Critérios qualitativos
Ótimo artigo, mas tenho uma dúvida que não é diretamente relacionada, mas queria saber por que não pode tocar com as mãos trocadas?
Olá Ana Beatriz
Essa é uma excelente pergunta. A flauta doce possui furos duplos para os dedos 6 e 7, e caso o flautista toque com mãos trocadas fará todas as notas referentes à esses furos desafinadas pois os furos duplos têm tamanhos diferentes.
Mas não é só por isso: existem flautas doces com chaves, e as chaves são desenvolvidas para que o flautista toque com a mão esquerda em cima e a mão direita embaixo, não existe flauta desenvolvida para ser tocada com as mãos trocadas.
Além disso, se o flautista quiser tocar outro instrumento, como a flauta transversal, saxofone, clarinete, oboé ou fagote, ele terá que tocar com a mão esquerda em cima e a mão direita embaixo pelas mesmas razões.
Não há justificativa para tocar com mãos trocadas, afinal o flautista usa as duas mãos de uma maneira muito similar. Em qualquer caso, ele precisa ter o domínio de todos os dedos, e da sincronia entre os dois lados do corpo.
Apenas como curiosidade, os instrumentos que eram usados antes do ano de 1730, isto é, há mais de 300 anos atrás, tinham apenas furos simples, e alguns flautistas naquela época tocavam com mãos invertidas. Isso mudou conforme os instrumentos passaram a usar chaves e furos duplos, e tiveram que assumir uma postura padrão para que os instrumentos pudessem ser fabricados de uma maneira consistente.